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  • Foto do escritorSustentare Júnior

O profissional ambiental na gestão de resíduos sólidos: uma entrevista com Lorena Dobre.

Quando falamos em resíduos sólidos no Brasil, podemos notar que apesar de inúmeros avanços, muitas dúvidas surgem em sua trajetória e ainda há um longo caminho para ser percorrido. Mesmo com o crescimento de iniciativas de reciclabilidade de materiais, o aumento do consumo e da geração de resíduos ainda acontece de forma abrupta. De acordo com a Abrelpe, em 2019 apenas 59,5% dos resíduos gerados no país eram destinados para o descarte correto e apenas 73% dos municípios brasileiros possuem coleta seletiva. Com o aumento da geração de resíduos sólidos urbanos e a preocupação crescente com os danos ambientais e a instituição da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS – Lei 12.305/10), a demanda por profissionais capacitados e que possuam habilidades para lidar com os desafios da atuação em Gestão e Gerenciamento de Resíduos Sólidos no Brasil vem se destacando no mercado.


Em entrevista exclusiva a Sustentare, Lorena Dobre - Cientista Ambiental graduada pela Unifesp; Membro e vice-coordenadora do Young Professional Group Brasil da International Solid Waste Association – ISWA e consultora autonoma – Abrelpe, Pituri e Tricicloa Brasil – conta sobre a área e as perspectivas de carreira – ISWA e co – ISWA e consultora autônoma - ABRELPE, Pituri e TriCiclos Brasil – conta sobre a área, suas experiências e dia a dia, além das perspectivas para os futuros profissionais.


  • Sustentare: Você poderia explicar um pouco sobre como se dá a forma de ingresso em sua área de atuação?

Lorena: Quando ingressei no estágio quatro anos atrás, vivíamos um momento diferente. Não havia muitas vagas disponíveis para trabalhar com gestão de resíduos sólidos, diria que tive um pouco de sorte de abrir a vaga certa, no momento certo, pois após minha vaga, não houve mais nenhuma para estágio aberta na instituição em que trabalho. Os grandes diferenciais no meu currículo foram os trabalhos que desenvolvi no tema, a Bolsa de Iniciação a Gestão (BIG) com a compostagem dos resíduos orgânicos do Restaurante Universitário e o meu TCC que também era voltado à compostagem, além disso, ter participado ativamente de organização de eventos, congressos, palestras e vendas de produtos por meio do Centro Acadêmico e da Empresa Júnior contaram pontos, porque no meu dia a dia também preciso desenvolver essas tarefas, e é preciso desenvolver essas habilidades. Atualmente o que mais se vê no LinkedIn são vagas para trabalhar com este tema, mas, em contrapartida, temos poucos profissionais realmente qualificados. Muitos se dizendo especialistas, mas pouco sabem da real complexidade da área. Portanto, aos que se interessam pelo setor, o ideal é procurar se desenvolver no tema e estar sempre muito antenado, porque hoje em dia o que mais se vê no mercado de trabalho é aquele famoso “Quem Indica”. Procurar ter uma postura neutra durante a

graduação também é importante, se dedicar desde o início e ter um bom relacionamento com todos, às vezes o que te faz entrar em uma oportunidade é a sua postura. Nunca se sabe quem está te observando.

  • Sustentare: Você acredita que sua área de atuação está fazendo um diferencial no momento? Como você especula que se dará a projeção de sua profissão nos próximos anos?

Lorena: Incontestavelmente. A geração de resíduos só tende a crescer, temos diversos relatórios nacionais e internacionais tratando sobre isso e seus impactos associados. Com a Agenda 2030 da ONU, o tema ganhou grande visibilidade nos últimos dois anos e isso só tende a aumentar. Trabalho é o que não falta e não faltará, existem diversas frentes para se trabalhar no setor de resíduos, tanto no setor privado quanto no público. Quanto a projeção, já vi notícias com especulação de salários nos próximos anos, e o profissional do setor de resíduos está entre os maiores, com salários podendo chegar na casa dos R$ 20.000, mas é claro que quem procura apenas salário, vai se frustrar muito. Existe uma carreira a ser construia e qualidade técnica que só se ganha com o tempo. Não espere ingressar no mercado de trabalho e já ganhar bem dentro de um curto espaço de tempo, e não espere realização profissional apenas com salário, você precisa gostar do que faz.

  • Sustentare: Em seu campo, como são as possibilidades de emprego? Existe tanto atuação no setor privado quanto público?


Lorena: Sim, existe. A gestão de resíduos sólidos permeia todos os setores (é transversal) e, conforme consta na Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), a responsabilidade é compartilhada. No setor privado existem vagas para se trabalhar em consultorias, laboratórios, empresas de limpeza pública, empresas de gerencialmente de resíduos, entre outros. E os temas são diversos: Logística Reversa, Economia Circular, desenvolvimento de produtos, elaboração de Planos de Gerenciamento de Resíduos Sólidos, gestão de dados, gestão de projetos, certificados de carbono, etc. No setor público, o profissional pode trabalhar em secretarias municipais e consórcios de municípios, em órgãos estaduais e mesmo federais, trabalhando para desenvolvimento de Planos de Gestão de Resíduos Sólidos, políticas públicas, e operação e fiscalização dos serviços. Neste caso, o profissional precisa ser ainda mais versátil, pois muitas vezes trabalha sozinho, e ele pode ser tanto concursado quanto cargo de confiança (que é indicado pelo governo eleito na época). Há ainda as instituições que trabalham para ambos os setores, como associações diversas, ONGs, consultorias e cooperativas de catadores, prestando serviços e/ou desenvolvendo projetos sociais e/ou ambientais sem fins lucrativos. Cabe acrescentar ainda que há grandes possibilidades de trabalhar como consultores autônomos, para projetos pontuais em instituições nacionais e internacionais, pois há grande investimento de países norte-americanos e europeus para o desenvolvimento do setor no Brasil, com diversos editais de concorrência de verba abertos todos os anos.

  • Sustentare: Como é o dia a dia de sua área de atuação?

Lorena: Pergunta difícil de resumir, mas basicamente eu faço de tudo e não há uma rotina metódica, depende muito do calendário de atividades. Minhas atividades envolvem: pesquisas, elaboração e revisão de projetos e relatórios técnicos, elaboração de relatórios financeiros, diagnósticos da gestão de resíduos sólidos de municípios, visitas técnicas, elaboração de termos de referência para editais de treinamento, apresentações, treinamentos para municípios, reuniões (a maioria ainda on-line devido aos projetos internacionais e a pandemia), elaboração de orçamentos, planejamento de eventos diversos, planejamento de conteúdos para redes sociais, dentre outros. Minhas ferramentas diárias são o pacote da Microsoft Officce e da Google, bem como as plataformas on-line de reuniões (Zoom, Google Meets e Microsoft Teams). Eu diria que quanto maior a instituição que você trabalha, menos

diversidade de atividades você terá, portanto, depende muito do seu perfil.

  • Sustentare: Você poderia dar uma dica, para futuros cientistas ambientais que queiram seguir em seu ramo? Na sua opinião, qual foi o segredo para sua contratação?

Lorena: Acabei já mencionando isso na segunda pergunta, mas acrescento o seguinte: para os que se interessam pelo setor de resíduos sólidos, meu conselho é procurar matérias eletivas que tratem sobre o tema de forma direta ou indireta, seja no curso de Ciências Ambientais ou não. No ano de 2021 a Professora Dra. Mirian Chieko passou a ofertar uma eletiva sobre isso, da qual tive o prazer de contribuir com a grade do curso e com uma palestra. Na minha época só tive a possibilidade de fazer uma matéria obrigatória de Gerenciamento de Resíduos, que é de extrema importância, mas está longe de cobrir todas os temas de relevância do setor. Eu precisei correr muito para aprender tudo que sei agora, e se você puder fazer isso ao longo da graduação, com certeza estará a frente de muitos. Além disso, assistir palestras em eventos e webinars com os grandes nomes do setor de resíduos sólidos vão te acrescentar muito. Durante a pandemia foram feitos muitos eventos on-line, todos eles disponíveis gratuitamente no YouTube. Aproveite os últimos dois anos da graduação, que têm uma grade mais livre, para isso. Também sugiro buscar grupos de jovens do setor, que abrirão portas para oportunidades. Em resíduos, temos o grupo de jovens profissionais da ISWA (Associação Internacional de Resíduos Sólidos, em português), chamado de Young Professional Group Brasil (YPG Brasil), da qual a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE) é a representante nacional, e o grupo de jovens profissionais do saneamento, que vai além de resíduos, abrangendo a parte de água e esgoto, chamado de Jovens Profissionais do Saneamento (JPS) da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES).

  • Sustentare: Como um cientista ambiental se habilita para trabalhar com gestão de resíduos? Você poderia nos contar sobre como é a preparação para este trabalho?

Lorena: Acredito que para o ingresso em um estágio as respostas anteriores contemplam isso, mas algo fundamental que já se exige logo no começo da graduação é o inglês. Hoje em dia a maioria das empresas, associações e demais instituições exigem o inglês como um segundo idioma. No caso deste idioma ser uma barreira, é sempre bom procurar uma segunda língua, tendo o espanhol como uma preferência de segunda opção. Trabalho diariamente com o inglês e, no momento, com o espanhol. Quando ingressei no estágio o meu nível em inglês era intermediário, e retornei aos estudos, porque realmente é algo indispensável no meu trabalho. O espanhol ainda é um idioma que não domino, mas entendo, e pretendo iniciar os estudos no segundo semestre deste ano, pois no setor de resíduos o que mais temos são projetos em parceria com governos da Europa e da América Latina. Aos profissionais que já estão empregados, reforço a necessidade de estar sempre atualizado, acompanhar notícias do setor, eventos on-line, cursos gratuitos e pagos, procurar pós-graduação e aprimoramento em um segundo e/ou terceiro idioma.


Para saber mais:

PIRES, Y.; OLIVEIRA, N. Aumento da produção de lixo no Brasil requer ação coordenada entre governos e cooperativas de catadores. Agência Senado. Disponível em: <sustentare_artigosenado>.

REDAÇÃO. Gestão dos resíduos sólidos é oportunidade de transformar o futuro. Revista Meio Ambiente Industrial. Disponível em: <sustentare_artigorevista>.

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