Nos tempos atuais, há um debate a fim de definir o conceito definitivo de
agroecologia, no entanto, a área está intimamente relacionada à agricultura
sustentável e à justiça social. Embora o termo tenha sofrido alterações ao
longo dos tempos, em decorrência das várias correntes da agricultura
alternativa ao longo do mundo, foi a partir da década de 1980 que sua base
conceitual e metodológica começou a ser propagada, principalmente por
Miguel Altieri e Stephen Gliessman. Com o decorrer dos anos, novos princípios
foram empregados para abranger a ética e justiça.
Pode se entender que a agroecologia é uma ciência que busca entender
os funcionamentos dos Sistemas Agroflorestais (SAFs), empregando métodos
científicos e tradicionais, proporcionando o uso de princípios ecológicos,
culturais, éticos, sociais e econômicos para o estudo e tratamento de
ecossistemas, tanto produtivos quanto preservadores dos recursos naturais.
Por abranger diferentes conhecimentos, gosto de entender que a agroecologia
é uma “escola de saberes”, composta pela ciência, tradições culturais,
experiências e regionalismos.
Os benefícios da agroecologia, vão além da sustentabilidade. Com a
implantação e manutenção dos SAFs, de forma correta, é possível aliar a
restauração florestal com inclusão social e produtiva na agricultura familiar,
promovendo a geração de trabalho e renda, segurança alimentar e nutricional,
além de oferecer o reparo de áreas debilitadas por ações antrópicas
desenfreadas. Um exemplo prático é visto na comunidade Altamira, localizada
no Acre, onde um grupo de 12 famílias, associadas à Cooperativa Central de
Comercialização Agroextrativista do Acre (COOPERACRE), em parceria com
WWF-Brasil, Universidade Federal do Acre, EMBRAPA e SEMA, fomentam um
projeto de plantio de seringueiras de forma sustentável, utilizando táticas
agroecológicas em Sistemas Agroflorestais.
Nas últimas décadas, houveram grandes avanços em relação ao
conhecimento agroecológico e orgânico, sendo destaque a promoção de
atividades de extensão e ensino, integrando os saberes tradicionais com o
conhecimento científico, além de avanços tecnológicos. No entanto, há
necessidade de um trabalho em conjunto para que os benefícios oferecidos por
essa agricultura sejam acessíveis e lucrativo a todos, por isso a Política
Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (Pnapo) foi instituída pelo
Decreto n° 7.794, de 20 de agosto de 2012, com o objetivo de “integrar,
articular e adequar políticas, programas e ações indutoras da transição
agroecológica e da produção orgânica e de base agroecológica”. Muito ainda
deve ser feito para promover esse trabalho, em especial nos âmbitos político e
econômico, portanto, é necessário continuar pressionando o setor público para
dar continuidade ao fortalecimento da Pnapo e de seus instrumentos, que
permeiam o desenvolvimento da educação agroecológica, agricultura familiar,
valorização da cultura popular entre outros.
Por: Andre Gomes
Bibliografia
Decreto n° 7.794, de 20 de agosto de 2012. Institui a Política Nacional
de Agroecologia e Produção Orgânica (Pnapo). Brasília: Presidência da
República, agosto de 2012. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
_ato2011-2014/2012/decreto/d7794.htm
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